Editorial
Discurso e prática
Envolvido em uma série de denúncias de condutas incompatíveis com um ministro de Estado desde que tomou posse para o cargo, o responsável pela pasta das Comunicações, Juscelino Filho, decidiu se manifestar esta semana. Apenas sobre uma das possíveis irregularidades. E somente por nota, sem entrevistas.
A declaração por escrito do político do União Brasil refere-se à recente informação publicada pela imprensa de que entre os dias 26 e 30 de janeiro o ministro usou da estrutura pública para fazer uma viagem a São Paulo em que o período foi preenchido, majoritariamente, por compromissos pessoais. Conforme o jornal O Estado de S. Paulo, três dos quatro dias foram ocupados por Juscelino Filho com atividades relacionadas aos seus negócios envolvendo a criação de cavalos de raça. Entre as agendas estiveram dois leilões, uma festa em homenagem aos animais e a inauguração de uma praça dedicada ao cavalo de um ex-sócio. Tudo fora da agenda oficial. Mas tudo viabilizado e custeado com recursos públicos que envolveram, além de diárias, voo de retorno a Brasília em aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). O que é vedado quando um ministro não está em atividade vinculada à sua atribuição pública. Sobre tudo isso, Juscelino informou que devolverá as diárias recebidas. Mas silenciou sobre o uso de avião da FAB.
Como dito, o ministro tem oferecido farto material para críticas. A primeira grave acusação a pesar sobre ele foi o suposto uso de recursos do orçamento secreto do governo passado, enquanto ainda era deputado, para asfaltar uma estrada que passa em frente a oito fazendas de sua família, no Maranhão. Os 19 quilômetros garantem o conforto de ligar as propriedades a uma pista de pouso privada e heliponto. Pior: a construtora da via disputou a licitação sozinha e foi contratada pela irmã do ministro, Luanna Rezende, prefeita de Vitorino Freire, município onde ficam as fazendas.
Não bastasse isso, Juscelino também é acusado de ocultar patrimônio em sua declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que é exigido por lei de quem disputa eleições. O agora ministro deixou de informar a propriedade de R$ 2,2 milhões em cavalos da raça Quarto de Milha, adquiridos em leilão.
As denúncias que pesam sobre o ministro das Comunicações são sérias e bem documentadas. Fatos que indicariam a impossibilidade de permanência no cargo sob qualquer circunstância e governo, mas que saltam aos olhos na gestão de Lula (PT). Afinal, o atual presidente e seu grupo político passaram quatro anos de governo Bolsonaro (PL) cobrando - com razão - o afastamento dos acusados das muitas irregularidades apontadas no período, bem como suas responsabilizações. Agora, contudo, margeiam o tema diante da situação delicada de Juscelino Filho.
Por mais que acordos políticos possam ser importantes para garantir a governabilidade, não podem ficar em segundo plano a idoneidade e conduta exemplar de quem exerce postos de liderança e estratégicos para o País _ como um ministro. E a prática de quem governa precisa ir ao encontro do discurso de quando estava na oposição.
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